Apesar de boa parte do curso ter cunho bem prático, o ultimo texto que li durante minha graduação (na matéria de Técnica de Produção em Televisão) no semestre passado, traz ressonâncias em minha cabeça até hoje.
Não consegui encontrar o texto para dar os créditos corretamente mas nesse determinado trecho usa-se os conceitos de dominante, residual e emergente de Raymond Williams.
Williams é grande estudioso dos processos culturais e fez um belo estrago em minha cabeça com o modo que enxerga a o andamento da cultura no tempo.
Não sou estudioso da área e provavelmente não tenho gabarito para escrever sobre o assunto mas mesmo assim vou arriscar fazer um registro sobre os esclarecimentos que a leitura desse pequeno texto trouxe para mim.
O que é
Williams entende a cultura como algo em movimento que não pode ser entendida somente pelo que é exteriorizado em um momento "t" específico.
As manifestações culturais sempre trazem resquícios do que já foi - a perspectiva residual - e do que há por vir - perspectiva emergente. Essas duas perspectivas se "misturam" ao que é dominante no momento observado.
Dessa forma é difícil fazer afirmações "classificativas" sobre qualquer recorte cultural. Delimitar uma manifestação cultural pode ser perigoso e, provavelmente, será incompleta, se o que é residual e emergente não for percebido.
Por que é vigente para mim
Além de explicar a percepção sobre a cultura, minha cabeça extrapolou esses conceitos para a percepção sobre os indivíduos.
É claro que as características e, principalmente, atitudes dos indivíduos são em parte considerável, reflexos de suas manifestações culturais e crenças mas eu gostaria de chegar ainda mais fundo.
Claramente os indivíduos são também formados por características dominantes, emergentes e residuais e GRANDE PARTE DAS VEZES TENTAMOS ENTENDÊ-LOS APENAS POR SUAS CARACTERÍSTICAS DOMINANTES, JÁ QUE SÃO AS MAIS EXTERIORIZADAS.
O autor comenta que os momentos de grandes transições (o texto que eu li da o exemplo do salto do uso da tecnologia de ponta na TV nas ultimas duas décadas) são os que evidenciam mais o "conflito" (ou até mesmo "convivência") das três perspectivas.
Creio ser esse o motivo pelo qual Raymond Williams tem estado tanto em minha cabeça. Como ser individual, estou passando por uma clara transição e retomar minhas características residuais e compreender as emergentes serão essenciais para saber lidar com o que é hoje dominante em mim. O que tenho externado.
Por que ajuda
Mesmo que o meu momento interno seja o motivo da reflexão a idéia do post não é ficar falando sobre mim. Apesar de que, como uma colega de reflexões, Bruna Estevanin ( http://brunqs.tumblr.com/ ), me disse, no fim das contas, "quando você pára pra pensar, na verdade todo mundo escreve sobre si mesmo".
Direi apenas o que, em minha limitada inteligência, essas idéias me tocaram.
Julgar ou ser julgado apenas por suas características dominantes pode causar prejuízos para o julgador e para o julgado.
Nossos julgamentos interferem em nossas ações em "relação à", interferindo portanto em nossas RELAÇÕES.
Apesar de não citar diretamente nos outros posts, acho que fica implícito como coloco as RELAÇÕES como questão central (de tudo mesmo).
Apreciar o que é residual e emergente aumenta nossa sensibilidade em relação aos outros e à nós mesmo. Torna essas relações mais precisas (no sentido de precisão) e construtivas.
Nos torna capaz de nos relacionar e nos "usarmos" (sim, não entendo "usar" com conotação negativa) de forma positiva. Entendendo potencialidades e fraquezas, assim, fazendo de nós senhores de nossos próximos passos individuais ou em grupo.
É imprescindível perceber que o ser humano, em essência, é capaz de atos contraditórios pois nele convivem quem ele já foi um dia, aquele quem ele é e parte do que ele será. As pessoas mudam e, em seus momentos de maior mudança e transição é que estão mais suscetíveis cometerem novamente erros do passado ou de pecarem por afobamento.
Pense nisso!