segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Um pouco de política - Lula para franceses e revoltas pela aposentadoria

Olá pessoas!

Como, vocês sabem, estou aqui na França e acho que seria interessante trazer a visão de alguém que está por aqui sobe alguns assuntos que estão por ai.

O primeiro deles: Lula para franceses.

Cara, Lula é um Deus por aqui. 1 a cada 5 franceses que conheço me perguntam se eu gosto do Lula.

O que eles sabem é que o Lula "veio do povo", é um ex-pobre no poder, que ele é aprovado por supostos 80% da população brasileira, que ele "diminuiu a pobreza" no Brasil (aumentando o número de pessoas na classe média), que o Brasil decolou com a crise por causa do Lula e, pasmem, que o bolsa família é um grande sucesso no combate à desigualdade social.

Eles nunca ouviram falar no "mensalão". Essa notícia não chegou por aqui. Na verdade, o que chegou por aqui é que Lula foi formidável no combate à corrupção.

Não estou fazendo julgamentos. Sei que não sou o cara que mais acompanha política. Estou apenas escrevendo retalhos do que 3 ou 4 pessoas me disseram por aqui.

O interessante é que me mostraram a capa de um jornal questionando Lula. Disseram que isso de questioná-lo só começou agora e perguntaram pela minha opinião.

O jornal pergunta se o milagre de Lula é verdadeiro e traz tradução de textos da Veja, Istoé, Epoca, La Jornada (?) e Público (?).

Parece que esses textos foram bem chocantes para os franceses.

Eles parecem mais interessados nas eleições no Brasil do que eu. Duas pessoas me repreenderam por eu ter viajado na época das eleições.

Eles não tem nem dúvida. São Dilma desde criancinhas apesar de nem saberem de onde ela veio.

Serra, ninguém sabe ninguém viu.

A Marina me surpreendeu. Duas garotas daqui a conheciam e eram fervorosas por ela. Elas são da ala ambientalista o que me faz pensar que Marina tem algum nome internacionalmente nessa área.

Passando para o segundo assunto: revolta pela reforma da aposentadoria.

Alguns de vocês devem ter lido no meu Facebook no início da minha viagem o quanto eu estava surpreso com o número de manifestações que eu via nas ruas (em 4 dias em Paris, vi duas).

Bom, descobri que isso não é tão corriqueiro assim. Segundo os franceses é por que esse negócio da aposentadoria está pegando mesmo.

A primeira manifestação que vi foi na Champs Elisées, em frente ao Arco do Triunfo.

Alguns turistas pararam de tirar foto dos lugares turísticos e passaram a acompanhar a manifestação.







A segunda manifestação que vi foi na Praça da Nation, um centro importante de Paris também. Não tenho fotos dela.

A terceira já foi aqui em Bordeaux. A revolta não é mais centralizada, já está por toda a França.

Bordeaux, além dos vinhos, é uma cidade extremamente estudantil. O pessoal daqui me disse que Bordeaux tem o maior Campus da Europa (não sei se em extensão ou número de estudantes). O ponto é que os estudantes saíram as ruas e pararam os trens (principal meio de transporte da cidade) causando bastante transtorno.


A foto não ficou muito boa por que não ilustra o tanto de gente que tinha. Na mesma noite teve uma reportagem de 5 minutos no jornal de difusão nacional só sobre essa manifestação.

Para contextualizar, vou escrever o que eu entendi da situação. Existe um projeto de reforma da Previdência para ser votado pelo Senado na próxima quarta-feira (dia 20).

O principal problema desse projeto, na opinião dos franceses, é que ele aumenta a idade para adquirir a "aposentadoria completa" de 60 para 62 anos. Esses 2 anos de diferença estão matando os franceses de raiva.

Pelo que entendi, a população está querendo vetar a aprovação. Alguns dizem que o governo será obrigado a "arranjar" emprego para quem terá que trabalhar mais anos para completar o tempo pois é muito difícil conseguir um emprego aos 59 anos, por exemplo.

Então começaram as manifestações e depois as greves. Fala-se em "greve geral", o que parece estar perto de acontecer. Transporte miunicipal, trens entre cidades, combustível e outros tipos de abastecimento já estão prejudicados por paralisações.

Eu conversei com Benôit, francês natural de Rennes que estuda por aqui, e perguntei a opinião dele sobre isso tudo (detalhe, o último fim de semana ele não conseguiu pergar um trem para Paris por causa da greve).

Na opinião dele a reforma é um tanto quanto necessária. Como sabemos, a Europa é um continente que está envelhecendo e o número de contribuintes já não é capaz de suportar o número de aposentados. Aumentar o tempo de contribuição é uma tentativa de equilibrar essa balança.

No entanto, mesmo o governo negando na TV, Benôit acha essa reforma não vai passar. A pressão está muito grande. Quarta-feira será "O Dia".

Nem mesmo os franceses tem idéia do que pode acontecer se essa reforma passar .

Acho que o país para. Se bem que já está praticamente parado.

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